Documento de moto de Adriano sumiu do Detran

Bando que atuava no órgão é suspeito de ter extraviado papel e impedir apuração sobre a transferência para mãe de traficante

POR MAHOMED SAIGG
Rio - A quadrilha especializada em fraudar documentos no Detran-RJ presa ontem é suspeita de desaparecer com o processo de licenciamento da moto Honda Hornet preta placa KYR-1480, comprada pelo ex-jogador do Flamengo Adriano. Conforme O DIA revelou em março, o veículo foi registrado em nome de Marlene Pereira de Souza. Moradora do Morro da Chatuba, no Complexo do Alemão, Marlene é mãe do chefe do tráfico na comunidade, Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica.


Foto:Alessandro Costa / Agência O Dia
A moto Honda foi comprada pelo ex-jogador do Flamento e registrada no nome da mãe | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
O extravio da documentação foi descoberto durante a sindicância E-12/419671/10, instaurada pela Corregedoria do Detran-RJ para investigar o caso. O desaparecimento da documentação impediu que os agentes do órgão pudessem provar se Adriano foi o verdadeiro comprador da moto e o responsável pela transferência.

“Diante da descoberta das atividades dessa quadrilha, vamos aprofundar as investigações para verificar se o sumiço dessa documentação está relacionado à ação desse bando. Queremos saber se alguém pagou para que o processo sumisse”, adiantou o corregedor-geral do Detran-RJ, David Anthony, que vai encaminhar uma cópia do relatório final da sindicância para a Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal do Ministério Público (MP).

“De fato, o processo de primeira licença da motocicleta de placa KYR-1480, datado de 14/07/2008, foi extraviado, ao que tudo indica, no âmbito da Divisão de Atendimento aos Despachantes, setor que compõe a estrutura da Diretoria de Registro de Veículos do Detran (DRV)”, diz conclusão da sindicância.

O documento, obtido com exclusividade por O DIA, também revela que a última pessoa que teve acesso ao processo no Detran foi a funcionária Flávia Cerqueira de Sequeira. Denunciada pelo MP por formação de quadrilha, ela é uma das mulheres que aparecem nas imagens feitas pela Corregedoria do Detran escondendo processos na roupa.

“Após o processo ter sido cadastrado e ter seu conjunto de CRV/CRLV nº 738.025.999-8 emitido no 7º andar da sede da autarquia pela operadora Flávia Cerqueira de Sequeira, detentora do login DTFLCS, foi encaminhado à Divisão de Atendimento aos Despachantes”, continua o documento. A Corregedoria observa, a seguir, que “não há registro da remessa do processo à DRV”.
Fraudador-chefe era assessor de deputado
Pelo menos 14 pessoas integravam a quadrilha que fraudava dados e documentos no Detran-RJ. Seis foram presas ontem e uma está foragida. O grupo, descoberto a partir de denúncia anônima à Corregedoria do Detran, é formado por seis funcionários do órgão e oito despachantes.

O chefe do bando, preso ontem, é Izaías da Silva — assessor do deputado estadual Geraldo Moreira, exonerado após sua prisão. Ele é dono de escritório no Centro batizado de ‘Detranzinho’. A Operação Atendimento Especial, realizada pela Delegacia Fazendária da Polícia Civil, também prendeu Luiz Paulo Silva, filho de Izaías; Flávia Bezerra, funcionária do Detran e namorada de Luiz; Bárbara Moraes dos Santos, ex-servidora do órgão e funcionária de outro despachante; Marlene Landes Ferreira, funcionária do Detran, e o despachante Josemar Pedro Soares. O despachante Walter de Moraes Souto está foragido.

Eles foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção e inserção de dados falsos em sistema de informações, com penas de até 11 anos de prisão.
‘Detranzinho’ causou prejuízo de pelo menos R$ 4 milhões ao estado
A fraude teria dado prejuízo aos cofres públicos de R$ 4 milhões só este ano. O grupo começou a ser investigado em janeiro, após funcionário convidado a participar do esquema denunciar os fraudadores à Corregedoria do Detran. Câmeras instaladas na Divisão de Atendimento aos Despachantes flagrou negociações de propina.

No ‘Detranzinho’ eram arquivados 4 mil processos. Segundo a delegada Izabela Santoni, o objetivo era impedir apuração de irregularidades. Documentos alterados eram emitidos no ‘Detranzinho’, que funcionava na Rua Senador Dantas, Centro, onde havia placas de veículos e lacres. Até 100 procedimentos eram fraudados por semana. Cada operação custava de R$ 300 a R$ 500 a donos de veículos. Havia subornos de R$ 3 mil.

Entre os serviços ilegais havia emissão de documentos de veículo ‘fantasma’, 2ª via de certificado de registro de veículo, 1ª licença sem emissão de nota fiscal, transferência irregular de propriedade, alterações irregulares de características e inclusão de blindagem sem autorização do Exército.
Motoristas na mira da Corregedoria
Motoristas que usaram os serviços do escritório para burlar alguma irregularidade poderão responder criminalmente. O alerta é do corregedor-geral do Detran, David Anthony.

Os proprietários serão notificados a comparecer ao órgão. “Os veículos receberão restrição administrativa para que não haja movimentação no sistema até que sejam regularizados”, explicou. Documentos fraudados serão anulados.

Outros funcionários de outros setores do órgão já estão sendo investigados pelo Ministério Público e pelo Detran. A Divisão de Atendimento aos Despachantes está sob intervenção.
Flagrantes
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram como eram negociadas as fraudes. Numa das ligações um despachante cobra para agilizar vistoria sem que o veículo vá ao posto de inspeção do Detran.

DESPACHANTE JESSÉ FERREIRA: “Filho, eu não posso te cobrar menos de 350 a transferência no escuro, é o meu preço já lá embaixo”.
Em outro trecho, funcionárias do Detran comentam os lucros com as propinas.
FUNCIONÁRIA: “A Tati conseguiu juntar R$ 80 mil”.

Numa ligação, duas funcionárias demonstram expectativa em aumentar os ganhos com o esquema de fraude.
FUNCIONÁRIA: “Vai melhorar mais... Enquanto a gente puder arrancar dinheiro, a gente tem que arrancar né?”.

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